Nenhum dos 99 mortos já identificados na operação policial mais letal da história do país, que deixou 121 pessoas mortas nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, constava na denúncia do Ministério Público que serviu de base para a ação, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (30). A denúncia listava 69 réus com mandados de prisão, mas nenhum deles está entre as vítimas, levantando questionamentos sobre a efetividade e a legalidade da operação.
Durante a ação, a polícia cumpriu apenas 20 mandados, enquanto os demais 93 presos foram detidos em flagrante. Essa discrepância reforça dúvidas sobre o planejamento da operação e alimenta críticas de entidades de direitos humanos, que classificam o episódio como a maior chacina registrada no Brasil.
Entre os mortos, 39 eram de outros estados, principalmente do Pará, com 18 vítimas, além de pessoas provenientes de Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Paraíba e Mato Grosso. Do total, 42 tinham mandados antigos, enquanto 30 não possuíam antecedentes criminais. A divulgação limitada de informações, como a lista completa dos presos, tem gerado revolta entre familiares que ainda buscam notícias sobre desaparecidos. A operação também resultou na morte de quatro policiais, entre eles o civil Rodrigo Velloso Cabral, de 34 anos, atingido por um tiro na nuca.
Batizada de “Contenção” e classificada como “um sucesso” pelo governador Cláudio Castro (PL), a operação agora é alvo de investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Ministério Público Federal (MPF), após denúncias de execuções extrajudiciais, tortura e ocultação de corpos. O episódio reforça o debate sobre o uso da força policial e a necessidade de responsabilização em ações de grande impacto social.
