Ofensiva ocorre após ameaças de retaliação pelo bombardeio ao consulado iraniano em Damasco no início de abril, atribuído a Israel
Horas depois de lançar drones e mísseis balísticos contra Israel, o Irã advertiu os EUA a não se envolver, afirmando tratar-se de uma questão entre os dois países. O regime de Teerã disse ainda que o ataque “encerra” uma situação iniciada por Israel com o ataque ao consulado iraniano em Damasco no início de abril, atribuído a Israel. É o primeiro ataque direto que o Irã lança do próprio território contra Israel.
“Conduzida com base no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas relativo à legítima defesa, a ação militar do Irã foi em resposta à agressão do regime sionista contra as nossas instalações diplomáticas em Damasco. O assunto pode ser considerado concluído. Contudo, se o regime israelense cometer outro erro, a resposta do Irã será consideravelmente mais severa. É um conflito entre o Irã e o criminoso regime israelense, do qual os EUA DEVEM FICAR DE FORA!”, disse a missão permanente do Irã nas Nações Unidas em uma nota publicada na rede social X (antigo Twitter).
Aliados de longa data, os EUA reforçaram o apoio a Israel após os ataques, com o presidente Joe Biden, que voltou às pressas do estado de Delaware para Washington, se reunindo com sua equipe de segurança nacional durante a noite para discutir a escalada do conflito no Oriente Médio. Segundo Biden, o compromisso da Casa Branca com a segurança de Israel é “inabalável”. Mais cedo, a Casa Branca já havia divulgado uma nota em consonância com a declaração do presidente.
Biden chegou a falar por telefone com o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, embora os detalhes da conversa ainda não tenham sido divulgados.
Por sua vez, a Guarda Revolucionária Islâmica do Irã emitiu uma segunda declaração alertando os EUA contra o apoio a Israel. De acordo com a rádio do Exército israelense, Washington e Londres foram responsáveis por interceptar cerca de 100 drones antes que chegassem ao território iraniano.
“Advertimos o governo terrorista dos Estados Unidos que qualquer apoio ou participação no ataque aos interesses do Irã terá uma resposta feroz das Forças Armadas do Irã”, diz a nota.
‘Irã declarou guerra’
Analistas apontam que a linguagem escolhida pela diplomacia iraniana guarda componentes de ameaça, mas também de evitar uma escalada imediata, apesar do número de equipamentos militares empregados no ataque contra Israel.
— O Irã tenta diminuir a situação, porque os EUA e o Reino Unido já estão envolvidos, por isso declaram que esta é uma guerra limitada apenas contra nós. Na prática, o Irã declarou guerra a Israel. Mas os iranianos anunciaram agora que “encerraram o assunto”. Isto não significa que seja esse o caso, significa apenas que eles têm medo de uma reação americana, israelense e de outros países aliados. A partir do momento em que “pegam a estrada” as decisões não estão (só) nas suas mãos — disse a ex-diplomata israelense Revital Poleg, colaboradora do Instituto Brasil-Israel (IBI).
O cientista político André Lajst, presidente da StandWithUs Brasil, também avaliou como improvável que o ataque iraniano encerre as hostilidades entre os dois países, apontando para um efeito inverso, de prolongamento da disputa direta com Teerã. Ele também analisa que o ataque alivia o isolamento israelense na comunidade internacional por legitimar uma reação à nova ameaça.
— O que o Irã fez vai obrigar uma resposta israelense na mesma medida, que é uma medida muito alta, considerando o ataque de centenas de drones e mísseis contra Israel. Não tem como passar em branco, como se a resposta iraniana ao suposto ataque contra a embaixada na Síria fosse algo aceitável, que Israel ia conseguir absorver sem responder — disse Lajst. —O Irã nunca atacou Israel diretamente na História, mesmo com os vários problemas entre os países desde a revolução islâmica, isso pode desencadear uma resposta israelense.