Em meio a altos e baixos no Brasileiro, Rubro-Negro vê jovens da base classificarem clube do Sul da Bahia. ge explica projeto que já tem destaques integrados ao elenco principal
Luta contra o rebaixamento na Série A e classificação antecipada na Série D. Por mais estranho que pareça, esta é a realidade do Vitória em razão de uma parceria inédita com o Itabuna, time do sul da Bahia. De um lado, a felicidade reina com o time em grande momento na Quarta Divisão; do outro, as incertezas pairam diante de uma campanha de altos e baixos na elite do futebol brasileiro.
O Vitória voltou a disputar a Série A do Brasileirão neste ano após cinco temporadas, mas um acordo com o Itabuna abriu um novo caminho para o Leão, que disponibiliza os jogadores da sua base e fornece toda a estrutura para a equipe de Itabuna jogar a Série D. Tudo isso aconteceu após o clube do interior da Bahia passar por rebaixamento no Campeonato Baiano e entrar em profunda crise financeira.
Na elite, o Vitória é o 15º colocado, com 15 pontos em 15 jogos. Já o Itabuna é o vice-líder do grupo A6 da Série D, com 23 pontos, e se classificou para o mata-mata com duas rodadas de antecedência. Vale lembrar que o grupo do Dragão do Sul é composto por times tradicionais e experientes no torneio, como Nova Iguaçu, Ipatinga e Portuguesa-RJ.

Entenda o acordo
Vitória e Itabuna oficializaram a parceria no dia 11 de abril, em coletiva no Barradão. O acordo contemplou o Dragão do Sul com todos atletas do sub-20 do Leão, além da comissão técnica e staff. Tudo que o Itabuna utiliza, de nutricionistas ao centro de treinamento, pertence ao Vitória. Em entrevista ao ge, Fábio Mota, presidente do Rubro-Negro, afirmou que a parceria tem duração de três anos, renováveis por mais três.
“Esses atletas que estão no Itabuna, inclusive, devem disputar o Brasileiro Sub-23, em setembro, pelo Vitória”.

O que o Itabuna recebe no acordo?
Todos os jogadores do sub-20 do Vitória ficaram à disposição do Itabuna;
Itabuna passou a mandar seus jogos no Pituaçu e no Barradão;
O treinador é Laelson Lopes, que comanda o sub-20 do Vitória;
Thiago Noronha, diretor da Base do Vitória, é o gestor.
A gente assumiu o Itabuna em tudo. Do Itabuna só tem a camisa. Dos médicos, comissão técnica aos jogadores, são todos do Vitória. Treinam aqui no nosso complexo. Vem dando certo, é uma parceria muito importante para o Vitória. Os atletas estão fazendo viagem e enfrentando jogadores mais experientes em um grupo muito forte na Série D. Isso tem melhorado nosso nível de competitividade na base e chamado a atenção de muitos clubes do Brasil. Muitos atletas já têm sondagem e despertaram o interesse de outras equipes – detalhou Fábio Mota, presidente do Vitória.
Time base do Itabuna no início da Série D:
O Vitória também quer aproveitar a oportunidade para expandir a marca do clube para o interior do estado, com a criação de um núcleo das categorias de base em Itabuna.
Além desse acordo, eu sugeri criar um acordo mais longo e fincar a nossa bandeira lá em Itabuna. Não queria só a parceria para disputar a Série D, mas também ajudar o Itabuna a voltar para a Série A do Baiano e, em conjunto com o clube, criar nosso núcleo lá, que tem muito potencial, mas é distante de Salvador. A nossa ideia é montar uma filial das divisões de base. Evoluiu para isso.

Realidades diferentes
Logo quando o acordo saiu do papel e entrou em vigor dentro de campo, o Itabuna sentiu rapidamente o impacto positivo na Quarta Divisão, com a equipe nas primeiras posições desde início. Enquanto isso, o time principal do Vitória, que já trocou de técnico, luta pela manutenção na elite do futebol brasileiro.
Segundo a diretoria, o desempenho ruim do Vitória no futebol profissional nos últimos anos resultou em sucessivas quedas no ranking de clubes, o que tirou a equipe das principais competições de base, que servem para lapidar os jovens no caminho para o time principal.
O problema é que nos últimos dois anos o Vitória viveu uma pressão muito alta por resultados. Não dava para jogar uma Série C só com os meninos da base, porque o prejuízo de não subir seria grande, da mesma forma com a Série B. O momento que o Vitória viveu nos últimos três anos prejudicou o desenvolvimento da base porque não podíamos trazer outras experiências para esses atletas. Se o Vitória conseguir se equilibrar na Série A muda tudo, a pressão diminui e o ambiente melhora. Mas não era só isso. Antes da gente chegar, a base do Vitória estava destruída – detalhou Mota.
É nesse contexto que entra a parceria com Itabuna em 2024, que dá mais rodagem aos jovens atletas. Eles passaram a ter uma experiência contra times do futebol profissional para acelerar ainda mais o desenvolvimento e viabilizar a chegada ao time principal do Vitória com mais maturidade.
O técnico Laelson Lopes comemora a oportunidade que os jogadores receberam para se desenvolverem em uma competição profissional.
Esse segundo momento da base vai acontecer e gerar mais jogadores para a equipe profissional, que já vão estar com uma boa minutagem pela Série D e vão começar com melhor forma, mais rodagem. Vamos ter jogadores entrando com mais estabilidade e mais confiante no profissional do Vitória. A crise é a crise, e o projeto de base do Vitória está sendo desenvolvido paralelamente.
Mas antes de garantir rodagem para os garotos, o Vitória precisou resolver o problema pela raíz, com melhorias na estrutura das categorias de base. Laelson afirma que o processo de reconstrução do clube após flertar com o rebaixamento para a Série D, em 2022, atrapalhou o desenvolvimento das categorias de base e reduziu o espaço dos jovens no grupo profissional.
O treinador conta que o principal objetivo da atual gestão é recuperar o time profissional e melhorar a estrutura do clube para, em seguida, voltar os olhares para as categorias de base.
Primeiro a ideia era cuidar do profissional e levar a equipe à Série A. A segunda etapa é aprimorar as categorias de base para que em um futuro próximo podemos ter jogadores titulares na equipe profissional do Vitória, como o [goleiro] Lucas Arcanjo”.
Fábio Mota também revelou a situação delicada que encontrou nas categorias de base ao assumir a presidência do clube. Segundo ele, o Vitória carecia de estrutura básica para os jovens atletas, como alimentação e alojamentos.