A operação policial deflagrada na terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, entrou para a história como o episódio mais letal já registrado no estado e em todo o Brasil no século 21. O número de mortos já supera o do massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, em São Paulo, que por mais de três décadas permaneceu como o mais sangrento resultado de uma ação policial no país.
De acordo com dados oficiais divulgados até a tarde desta quarta-feira (29), 121 pessoas foram mortas, entre elas quatro policiais. No entanto, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) aponta que o total pode ser ainda maior, com 132 vítimas confirmadas, incluindo dois militares e dois civis. A discrepância entre os números evidencia a falta de transparência e a dificuldade em dimensionar a real extensão da tragédia.
A operação, que segundo as autoridades tinha como objetivo desarticular a estrutura do Comando Vermelho (CV), também resultou na prisão de 113 pessoas, conforme informou a Polícia Civil. O saldo de mortos e detidos, porém, levanta sérias dúvidas sobre a proporcionalidade do uso da força e a eficácia das ações de segurança pública no enfrentamento ao crime organizado.
Organizações de direitos humanos, parlamentares e entidades civis têm cobrado investigações independentes e criticado o caráter violento das operações nas favelas cariocas. O episódio reacende o debate sobre o modelo de segurança adotado no Rio de Janeiro, que há anos transforma comunidades em palcos de guerra, deixando um rastro de medo, luto e descrença na capacidade do Estado de proteger — e não exterminar — sua própria população.









