O número de povos e línguas indígenas no Brasil teve um crescimento expressivo na última década, de acordo com dados do Censo 2022, divulgados na última sexta-feira (24) pelo IBGE. O levantamento identificou 391 etnias, um aumento de 86 em relação a 2010, além de 295 línguas indígenas, sendo 21 registradas pela primeira vez. Esse avanço reflete tanto a melhoria na metodologia de coleta e análise quanto o fortalecimento da autoafirmação e autonomia identitária entre os povos originários, que passaram a se reconhecer e se declarar de forma mais precisa nos questionários.

Segundo o IBGE, o aumento da diversidade registrada está ligado também ao reconhecimento de etnias transfronteiriças, presentes em regiões que fazem divisa com países como Colômbia e Venezuela. Outra mudança relevante foi a desagregação de categorias que, em censos anteriores, reuniam comunidades distintas sob um mesmo nome. Com essa nova abordagem, o retrato da realidade indígena brasileira tornou-se mais fiel e detalhado, permitindo a inclusão de grupos como Akroá-Gamela, Kumaruara, Tapuya-Kariri e Wayuu, entre outros.

A pesquisa revela ainda que a diversidade étnica cresceu em quase todos os estados brasileiros. São Paulo (271), Amazonas (259) e Bahia (233) lideram em número de etnias identificadas, enquanto o Amapá foi a única exceção, passando de cinco para três grupos declarados. Nas capitais, São Paulo, Manaus e Rio de Janeiro concentram a maior variedade de povos, refletindo tanto a presença histórica quanto o movimento migratório e urbano de populações indígenas.

O Censo 2022 representa um marco histórico para o reconhecimento dos povos indígenas no Brasil. A ampliação dos dados reforça a vitalidade, resistência e diversidade cultural desses povos, que, mesmo após séculos de apagamento e silenciamento institucional, reafirmam sua presença e importância dentro da soberania nacional. É um retrato mais justo e representativo de uma parcela essencial da identidade brasileira.