A Central de Abastecimento do Malhado poderia e deveria ser um cartão-postal de Ilhéus. Um espaço que traduz nossa identidade, onde a culinária pulsa no cheiro da pimenta, na conversa entre barracas, na farinha de qualidade, no peixe fresco que acabou de chegar do mar. Poderia. Mas virou panfleto molhado, esquecido no chão, amassado, abandonado. E antes que me critiquem isso tem décadas bandeiras políticas para vários prefeitos ( Jabes Ribeiro, Valderico /Pai, Newton Lima , Marão – cuida de mim Dr que diga-se de passagem não cuidou da feira , Marão o trabalho transforma novamente que não transformou a feira e Agora dessa vez Valderico/filho e as promessas continuam.
Ainda sim, o coração da cozinha ilheense consegue bater, com arritmia e pela força de quem, desde a madrugada está lá, lutando pelo seu dia, lutando pelo seu sustento e mantendo viva a esperança de um dia poder trabalhar em um local digno de tanta riqueza – cultural, econômica, de história de família. A Central de Abastecimento ou, a querida Feira do Malhado, sobrevive graças aos feirantes, aos comerciantes dali, que precisam dividir espaço com o mofo, com remendos e vigiados atentamente por urubus.
O espaço continua sendo um local da fruta fresca, de peixes, carnes, do cheiro de tempero, de comércios que vendem de tudo um pouco, do som de toda aquela gente, suas risadas, histórias de vida. Mas como disse, também é um espaço dividido por bandos de urubus e isso não é metáfora (não ainda). Eles estão lá, dividindo território com ratos, baratas, lixos espalhados e um cenário que nos entristece. Às vezes, surgem urubus de outras espécies, das que usam ternos. Esses pousam por lá quando o Instagram pede por uma foto “com o povo”. Imaginem, como uma selfie com a vendedora de coentro rende no feed?
As promessas são inúmeras, os pedidos de socorro ecoam das paredes, da estrutura desgastada, dos riscos à saúde. Quantas vezes já foi falado em reforma, em modernização e valorização da região? E olha, um segredinho só aqui entre a gente, projeto existe viu? E é lindo, incrível mesmo, sem exagero. Mas, como não foi parido neste governo, infelizmente deve estar jogado em alguma gaveta da Seinfra. Essa é uma das partes ruins da política, infelizmente, para que um projeto seja viável, ele precisa ter padrinho para nascer.
E, essa coisa de padrinho, chegamos mais uma vez em um problema que amigos da imprensa já falaram em seus veículos e eu mesmo trouxe aqui. Vamos refletir juntos. Mais uma vez nós paramos na falta de governança do atual executivo ilheense. Estamos isolados e sem forças e isso se torna cada dia mais evidente, pois a crítica se repete e nem aqueles que adotam políticos conseguem defender ou ir contra. Um governante tem que governar, precisa romper as barreiras. É fato que ser situação torna tudo mais fácil, mas, quando não se é, precisa sim, se virar para encontrar alguma possibilidade de diálogo.
Ilhéus não tem condições de se manter sozinha. Estamos justamente numa faixa de município que não arrecada o bastante para fechar o caixa, mas também não se basta com o repasse do FPM (que levou aquele tombo recente, graças ao censo tão bem feito quanto o interior da cabeça do entornozeleirável). Ilhéus elegeu a atual gestão confiando nas promessas da novidade, quase um “vamos mudar tudo isso aí”. Porém, a promessa de renovação tem sido trocada por desculpas e elas já não estão colando mais.
Não queremos ouvir que “tudo é culpa da gestão anterior” ou, “que estamos isolados e não temos apoio”. Esse discurso já venceu, o povo já entendeu, já ouviu e se cansou. Ok, não vim defender ninguém e sim, o município poderia estar em melhores condições, mas estamos em agosto já, isso sem contar o período de transição. Já era para estarmos vendo alguma solução, alguma luz no fim do túnel, mas parece que estamos eternamente naquela fase de “vamos esperar os cem dias”.
E, se formos falar de passado e prefeituras que não deixaram um legado assim tão bom, vai acabar virando um “Casos de Família” aqui ou, matéria de terror no Fantástico; situações que estão muito próximas do atual governo, não é verdade? Governos anteriores também herdaram o caos e isso não é exclusividade de Ilhéus, talvez seja até cultural em nosso país. Mas eles entregaram, não fizeram mágica, espetáculo. Eles trabalharam, cobraram, buscaram ajuda, acertaram, tropeçaram, mas governaram. Hoje, o que se vê é birra, vaidade e story. É gabinete que posta, mas não propõe. Digamos que é um governo instagramável demais para buscar por soluções e assim, se antes falavam que queriam morar na Ilhéus que o Instagram da Prefeitura mostrava, vou te falar, hoje, não tenho essa mesma vontade não. Mas quero sim, lutar pela Ilhéus que nós ilheenses merecemos ter.
Ilhéus precisa de sola de sapato gasta, de projeto debaixo do braço e, se necessário for, de acampamento montado na frente da sala do governador, dos deputados da situação e até da oposição. Precisamos ver trabalho, ver vontade, ver nossos políticos em Salvador, em Brasília, tentando abrir espaços, marcando presença. Precisamos de menos desculpas e mais atitudes. Porque não dá para transformar a cidade apenas mudando o sentido de umas ruas e dando nomes bonitos para festas que custam centenas de milhões. Para que a política do pão e circo dar certo, a população precisa de pão, por menos ideal que seja essa linha de governo. Fazendo um parêntese aqui, sei que as verbas não se cruzam, mas esses milhões, que me falaram que seriam da saúde e teriam ido para os artistas, talvez pudessem ser as centenas de milhões que a Feira do Malhado precisa receber.
Lembrei-me de Gil agora, que cantou “Rio de Janeiro continua lindo…”. Se ele cantasse a Feira do Malhado, talvez seria mais ou menos assim: A Feira do Malhado continua feia! / A Feira do Malhado tá de dar pena! / A Feira do Malhado, mofo e cansaço! / Alô, alô, seu prefeito, o que eu faço? / Alô, bancada da promessa e esse descaso? / Alô, alô, seu prefeito, o que eu faço! / Alô, promessa de mudança, velho fiasco?!
Essa história da Feira representa muito o que é Ilhéus hoje, sem paródias, sem brincadeiras, o retrato é de grande inércia. E aqui, vou me permitir um devaneio. Às vezes, fico pensando a prefeitura atual de Ilhéus está sentada, esperando por 2026 e uma possível eleição do candidato “Cenoura&Bronze” para aí, sim, ter todas as portas de Ondina abertas. Só que isso é muito, mas muito arriscado mesmo. Não vejo o PT de Jerônimo ou de quem for, deixar o governo da Bahia tão facilmente assim não. Com isso, não tem como fugir, é necessário trabalhar, tá mais do que na hora de assumir o posto de liderança que os ilheenses permitiram que o ocupe.
Não dá mais tempo de esperar!