A Emergência Pediátrica do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, registrou um aumento expressivo no número de atendimentos em 2024. Em janeiro, foram realizados 861 atendimentos; já em maio, esse número subiu para 1.716, dos quais 457 foram diagnosticados com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). O pico dos casos mais graves, com sintomas gripais intensos, também ocorreu em maio, com 181 registros de alta urgência. Esse crescimento está diretamente relacionado ao período sazonal das síndromes respiratórias, que ocorre entre abril e julho, quando há maior circulação de vírus que afetam o sistema respiratório.
Entre os principais sintomas observados estão febre, tosse seca, dores musculares, cefaleia e dificuldade progressiva para respirar, sendo que os quadros mais graves podem comprometer os pulmões. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica tem sentido o impacto desse aumento. O coordenador da UTI, enfermeiro Márcio Demétrio, destaca que, diante do número elevado de casos de bronquiolite, até recém-nascidos com menos de 28 dias — que normalmente seriam atendidos pela neonatologia — estão sendo admitidos na UTI Pediátrica. “Recebemos recentemente uma criança com apenas 13 dias de vida”, conta. Crianças com até 15 anos, 11 meses e 29 dias podem ser internadas na unidade, e muitas delas necessitam de intubação por até 15 dias, principalmente nos casos de bronquiolite, cujo pico ocorre entre o terceiro e o sétimo dia da infecção.
Segundo o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), entre janeiro e maio, 54 amostras foram enviadas ao Laboratório Central (Lacen), em Salvador. Destas, 28 apresentaram resultados positivos: a maioria para Vírus Sincicial Respiratório — principal agente da bronquiolite — além de casos para Rinovírus, DENV2, dengue, COVID-19, Adenovírus e um de meningite. Diante da alta demanda, o hospital reforça que a prioridade no atendimento não segue a ordem de chegada, mas sim o grau de gravidade, conforme estabelece o Protocolo de Manchester. Esse sistema de triagem utiliza cores para classificar a urgência de cada caso, garantindo que os pacientes mais críticos sejam atendidos com prioridade. No entanto, 83% dos atendimentos realizados são classificados como azul ou verde — ou seja, de menor gravidade e que poderiam ser resolvidos em unidades básicas de saúde ou UPAs — o que contribui para a superlotação da emergência.
Para enfrentar esse cenário, o hospital adotou medidas emergenciais na gestão dos leitos, como a criação de enfermarias específicas para pacientes em triagem e para aqueles em fase de tratamento, além de uma enfermaria de retaguarda para casos que estão em recuperação da UTI. “Com isso, conseguimos liberar leitos de UTI de forma mais ágil, evitando infecções cruzadas e garantindo continuidade do cuidado”, explica a diretora-geral Domilene Borges. Ela reforça ainda a importância da vacinação contra a gripe como principal forma de prevenção, especialmente após a recuperação. Inaugurado pelo Governo da Bahia em dezembro de 2021 e administrado pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), o Hospital Materno-Infantil é a única maternidade 100% SUS da região sul da Bahia e também a única no estado com habilitação para atendimento especializado a Povos Indígenas. Com 105 leitos destinados à obstetrícia, partos de risco, pediatria e UTIs, a unidade já superou a marca de 10.200 partos realizados.